Opinion Article

50 anos de progresso em 5 para todos

A envolvência em projetos de investigação científica, com universidades brasileiras, tem-me dado a oportunidade de conhecer vários “brasis” dentro do Brasil. Em abril, com a prisão do antigo presidente Lula da Silva, observou-se que a dimensão das revoltas sociais geradas em diversos estados foi proporcional à desigualdade social. 

Mas, tal como se tem especulado, estará o Brasil mesmo no fio da navalha? Acredito que os 30 anos de cultura democrática evitarão uma implosão social. Contudo, há efetivamente um processo político-social em evolução, que poderá assumir um comportamento caótico. Sente-se que as pessoas estão unidas na desilusão com a política e divididas no sentimento de justiça com o Lula, sendo que esta divisão é maior a nível interestadual do que a nível intraestadual. Contudo, as divisões unem-se na culpabilização da corrupção pela condição atual do Brasil. A diferença reside, efetivamente, no valor que cada estado ou pessoa dá ao trabalho educacional e social do Lula. O Lula personifica realmente uma ideia, comprometida numa economia estagnada. Mas, poderá efetivamente algum dia o país crescer com tal desigualdade social? 

Este ano, na última visita ao Brasil e em contexto académico, tive a oportunidade de fazer um estudo simples, sobre a desigualdade social daquele país, sem recorrer à ajuda do índice de Gini. Mesmo não sendo uma das classes sociais mais privilegiadas, o salário líquido de um professor universitário brasileiro, no início de carreira, é cerca de 10 vezes superior ao salário mínimo brasileiro; ao invés, em Portugal, o salário do seu homólogo é apenas quatro vezes superior ao salário mínimo nacional. Constata-se, ainda, que no Brasil a carga de impostos sobre o salário é pouco mais de metade do que em Portugal, em termos percentuais, e que os salários líquidos são equivalentes. Portanto, num contexto de um mundo globalizado, o Brasil precisa de mais investimento em educação e infraestrutura para subir, rapidamente, e não apenas por decreto, o salário mínimo nacional. Esta desigualdade compromete, e continuará a comprometer, um crescimento económico e social sustentado. 

Os políticos brasileiros deveriam “conhecer” melhor a história de Brasília e o próximo presidente tem de idealizar um novo plano de metas, abraçando em primeiro lugar uma meta económico-social. O Plano de Metas de Juscelino Kubitschek é, mesmo com defeitos, uma fonte de inspiração para fazer mais, mas com um novo slogan - “50 anos de progresso em 5 para todos”!


Opinion Article, Published in Jornal Sol, June 9, 2018 (in Portuguese)