Opinion Article

Integração de doutorados nas empresas

Em Portugal, até meados de 2005, os doutores em engenharia civil formados nas universidades portuguesas eram, essencialmente, engenheiros já integrados na carreira docente do ensino superior. Após essa data, o aumento do número de bolsas da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e a internacionalização das universidades portuguesas contribuíram decisivamente para atrair novos candidatos, nacionais e internacionais, com objetivos diferenciados. 

Em particular, de forma a perceber melhor a situação profissional dos doutores em engenharia civil formados em Portugal na última década, realizei um estudo através de uma amostra que se considera representativa. O mesmo permite inferir de que atualmente, dos mesmos, cerca de 45% são docentes no ensino superior, 25% estão integrados em empresas (cerca de metade em Portugal), e os restantes estão integrados noutras atividades, tais como de investigação científica. Mais, tendo em conta apenas os doutores formados nos últimos cinco anos, observa-se um aumento da percentagem dos mesmos nas empresas (33%) e uma diminuição na carreira docente (30%). Assim, os resultados do estudo permitem tirar duas conclusões: resistência ou retardamento à integração de recém doutorados na carreira docente e dinâmica crescente de integração de doutores nas empresas nacionais e internacionais. 

Efetivamente, o valor profissional dos doutores começa a ser reconhecido pelas empresas, ao contrário do passado em que havia alguma desconfiança na mais valia. A meu ver, e no caso particular dos doutores em engenharia civil, aqui reside precisamente uma oportunidade para as empresas do setor da construção civil, pois o novo profissional apresenta uma formação diferenciada, com potencial de acrescentar valor, promover inovação tecnológica e desenvolver abordagens novas para resolver problemas. Num mundo global, onde, por exemplo, as empresas nacionais de construção têm dificuldades em competir com as homólogas internacionais, ora por falta de dimensão ora por falta de financiamento, o novo profissional poderá permitir desenvolver nichos de atividade através da transferência de inovação e de tecnologia da universidade para a indústria. 

Contudo, devemos ter presente que o doutoramento é também o resultado de um percurso académico, onde, como qualquer outra formação, nem sempre os resultados práticos do investimento são imediatos, pelo que cabe ao Governo continuar a insistir nos incentivos à empregabilidade dos doutores nas empresas em geral. 

Opinion Article, Published in Jornal Sol, 12 December 2017 (in Portuguese)